domingo, 22 de setembro de 2013

Depoimento sobre BULLYING

Marcos Meier - depoimento sobre bullying sofrido na escola
 
No início da adolescência, eu já era muito maior que meus colegas da escola, além de ser bastante magro e branco. Essas características me faziam ser “o diferente”, a ponto de servir de chacota não apenas por parte dos colegas de sala, mas por todos da escola.
Ao entrar no pátio interno, o coro ressoava: “Pau de catar laranja”, “espanador da lua”, “perna de vela”, “queijo branco”, “urubu branco”, “garça”, “girafa”, “monte Everest”, entre outros apelidos. A criatividade dos agressores não tinha limite, e a minha tristeza só aumentava. No início das agressões, os poucos amigos que eu tinha “ficavam do meu lado”. Um ou outro dizia: “Não ligue, Marcos, eles são uns bobões”, mas depois eles também começavam a ser atingidos, pois os agressores diziam que “amigo de urubu também é urubu”. Depois de um tempo, me vi sem ninguém com quem contar. Eu calculava a hora que deveria sair de casa para chegar no momento exato em que o sinal da escola tocava, e, assim que as aulas terminavam, corria para casa. As festas de aniversário eram motivo de muita ansiedade, alegria e diversão para todos, menos para mim, que nem chegava a ser convidado. A única da qual eu não tive como escapar ocorreu na própria sala de aula, sendo que os meninos convidaram as meninas para dançar. Mesmo sem saber dançar, tomei coragem para convidar uma colega de turma e ouvi o seguinte como resposta à minha ousada pergunta: “Você é muito alto”. Mas eu não desisti e convidei outra garota, que disse: “Não dá não, iria ficar ridículo”. Depois, sentei-me ao lado de outro menino também considerado “esquisito” e ali ficamos, em silêncio. Aprendi a estar sempre sozinho e a me esconder nos livros. Senti na pele o que a exclusão faz. Além disso, comecei a ter ideias suicidas: talvez as pessoas não se incomodassem tanto se eu não existisse, talvez o mundo fosse um lugar melhor de se viver se o “cara esquisitão” saísse dele. Chorava escondido em casa para que meus irmãos e meus pais não descobrissem que algo estava errado, pois eu sentia que o errado era eu, e que a “culpa” era somente minha. O meu final poderia ter sido trágico se não fosse o apoio de minha família. Uma tia me abraçava sempre que me via e dizia: “Uau, como homem alto é lindo!”. Eu não acreditava, mas isso aliviava o meu coração. Minha mãe demonstrava seu carinho e admiração por mim e contrabalançava as agressões verbais que eu recebia na escola com elogios de todos os tipos. Meus irmãos, fisicamente parecidos comigo, faziam com que eu percebesse que não estava sozinho. Tudo isso me salvou. No entanto, apesar de eu ter aprendido a lidar com as diferenças, a aceitar minhas características físicas e, atualmente, gostar delas, minha autoestima estava prejudicada. Levei muito tempo para compreender que a minha percepção de valor próprio estava afetada pela minha história, mas que eu podia me livrar desse peso. Hoje sou feliz, realizado e busco novos desafios acreditando que sou capaz. Todavia, tenho a consciência de que nem todas as pessoas tiveram a mesma sorte. Sofrem até o fim da vida por não acreditarem em si mesmas, e, lá no fundo de suas almas, não se acham competentes o suficiente. O bullying não deixa ninguém mais forte, mais capaz ou mais competente. Tudo isso é resultado de uma família que apoia, de amigos solidários, de terapia, de reflexões profundas e de uma conscientização adequada em relação à vida e aos valores e princípios próprios.

Este depoimento faz parte da obra Bullying sem blá-blá-blá versão Teen, disponível no site www.kapok.com.br

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